Um amor que só tem na velhice
- Melissa Tavares
- 10 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de jul. de 2023
Carl Jung: “psique é imagem, todo o processo psíquico é uma imagem e um imaginar. A alma humana é constituída de imagens, ou é, ela mesma, imagem.”
Tem um amor que acontece quando se conhece de que imagens a alma do outro é feita. Talvez esse amor, que só acontece na velhice, só se torne acessível quando passamos a contar as nossas imagens, ou seja, quando contamos nossas histórias para nossos filhos e netos. Contar nossas histórias e as de nossa família é um compartilhar de imagens que diz de onde viemos, nos ancora nesse mundo. Quando compartilhamos, criamos um espaço para trocas e lá recebemos o novo.
Esse amor é como uma vibração que ajusta nossa mente para ver isso tudo que está presente quando estamos com uma pessoa que amamos. Passar a observar a partir de que imagens ela interage com o mundo, a singular perspectiva da qual vivem. Você conseguir se afastar das suas questões e conseguir imaginar o que essa pessoa sente, é um amor de descentramento.
Essa singular compreensão do outro tem algo de coletiva. Ter esse olhar para o que é singular nessa pessoa, mas também perceber que tem alguma coisa que lhes atravessa, que é comum a vocês dois. É uma experiência diferente, um tipo de amor maior.
Perceber que há essa ligação que é feita de imagens. As imagens perduram, elas não sentem o passar dos anos, superam até mesmo a finitude do corpo. Ao contar as histórias daqueles que nos antecederam, imagens mentais são criadas nas gerações seguintes. É a transmissão de uma história familiar. Quando você é lembrado, sua imagem acontece de novo, se faz presente. Sentir esse amor é valioso, dá sentido a tantas coisas pelas quais você já passou. É o amor da compreensão.
Esse amor vibra de um jeito próprio. É complexo na medida em que sua química é também composta pelas dores, saudades e vazios. Mas é essa complexidade que faz a magia acontecer. Esse amor só acontece na velhice porque ele não é da ordem da utilidade nem se afeta com as expectativas para o futuro. Na velhice podemos resistir à utilidade e à boa moral. Aqui se é livre das críticas internas que foram companheiras de quase toda a vida. Podemos não ser mais guiados pela necessidade de cuidar e então termos olhos para entender sobre o que é o descender. É um amor que vem da sabedoria.
Esse amor que pode acontecer quando você chega à velhice dá novo tom aos encontros. Isso que te afeta e, por seu intermédio, opera no mundo. Então é possível que esse amor, que só acontece na velhice, seja como um maestro, aquilo que faz os ruídos das coisas pelas quais passamos entrarem em harmonia, e passarem a soar como música. A sua vida como uma melodia, com notas graves e agudas, harmonias e desafinos, e com refrões que se repetem por toda a jornada.
Então tem uma forma amorosa de se estar nesse mundo que é profundamente revolucionária porque faz mudanças em nossas almas e para isso o tempo é essencial.
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