Yoga e Jung
- Melissa Tavares
- 27 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de jul. de 2023
“A Yoga é, de um lado, a expressão mais eloquente do espírito hindu e, do outro, o instrumento de que o indivíduo se utiliza sempre para provocar esse singular estado de espírito”
O psiquiatra suíço Carl Jung (1875 – 1961), fundador da psicologia analítica, atuou em diversos campos do conhecimento e produziu uma impressionante obra que se mantém influente na atualidade.
Dentre o seu legado, a formulação do conceito de inconsciente coletivo o levou a estudar as mitologias e religiões ocidentais e orientais, e assim foi um dos importantes europeus do séc. XX a fazer pontes entre essas diferentes formas de pensamento. Coube a Jung o prefácio e comentários das traduções de algumas obras centrais do pensamento oriental: Bardo Thodol – Livro Tibetano dos Mortos, I Ching – O Livro das Transformações, A Grande Libertação (D. T. Suzuki), O Caminho que leva ao Si-mesmo (H. Zimmer).
De forma suscinta, podemos dizer que esse mergulho no pensamento oriental contribuiu para o pensamento de Jung de diversas formas. Segundo o conceito de inconsciente coletivo, o inconsciente não se restringe à uma dimensão pessoal e caótica, mas é uma disposição psicológica coletiva de natureza criativa, comum a todos os homens. Os ocidentais buscam essa conexão com o inconsciente por alguns meios, como a alquimia e a psicoterapia, enquanto a tecnologia desenvolvida pelos orientais tem por principal caminho a yoga, caminho que alcança a divindade que está em todas as coisas.
A prática da yoga, na compreensão de Jung, vai muito além do corpo e da respiração, são também de natureza filosófica, ela age na ligação do corpo à totalidade do espírito, a exemplo do prânayâma, onde prâna é ao mesmo tempo a respiração e a dinâmica universal do cosmos. A isso se opõe a cisão ocidental da experiência do corpo e a da alma, em que as práticas de cuidado voltam-se para uma ou outra dessas dimensões do sujeito.
Em função desse paradigma europeu foi que Jung temia que a assimilação da yoga pelo ocidente pudesse fazer com que a unidade da yoga fosse desmembrada para sua integração de acordo com as cisões do esquema científico. Essa preocupação de Jung se mostra procedente, mas também cabe especularmos se de alguma forma a expansão da prática da yoga no Ocidente também não contribuiu para o questionamento de alguns paradigmas pelos próprios ocidentais.
Nesse mesmo sentido, a psicologia analítica de Jung é um exemplo de visão de sujeito indivisível, já que toma o corpo e a mente como um continuum, fases de um único gradiente, de modo que o que afeta o corpo toca também a mente e vice versa. Em sua viagem à Índia e Sri Lanka, em 1937, Jung registrou: “As Índias deixaram vestígios em mim que vão de um infinito a outro infinito”.
A yoga e a psicologia analítica encontram muitas ressonâncias e por isso podemos ver uma complementaridade nessas práticas da busca de Si-mesmo.
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